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domingo, 30 de dezembro de 2012

O meu-esporte e o MMA


Como leiga em esportes, eu pergunto: MMA é um estilo de luta criado há pouco tempo? Porque, se não me falha a memória, não tem nem cinco anos que a mídia descobriu que transmitir UFC poderia dar audiência. Até então, sequer eram mencionados os resultados das lutas nos telejornais. Eu, em minha ingenuidade, acreditava que as lutas não eram tão populares como outros esportes pelo seu caráter mais agressivo, que não combinava muito com a grande massa. Mas, de repente, descubro que combina, sim. Aliás, aparentemente, sempre combinou. De um dia pro outro, tem uma galera que acompanha as competições, conhece os lutadores e torce fervorosamente. Beleza, acho estranho, mas, na prática, isso não me afeta em nada.

O que quero destacar é uma questão que tem me martelado desde o “boom” do UFC. Sempre acreditei – olha eu ingênua mais uma vez - que a prática de esporte estava ligada a saúde e bem-estar. Sempre admirei esportistas, não só os profissionais que se dedicam integralmente ao esporte, mas, principalmente, aqueles capazes de inserir as atividades em suas rotinas de gente comum, seja por vaidade, saúde ou lazer.

Mas, voltando à questão que me importuna... MMA não se insere no conceito de esporte formado em mim. Na minha cabeça, quem pratica esporte sempre está sujeito a acidentes, mas, em geral, o resultado é uma mente tranquila e um corpo embriagado de serotonina, ou seja, uma pessoa feliz e saudável.

Daí, eu vejo hematomas, orelhas deformadas, narizes quebrados e sangue jorrando em todas as competições... Não consigo me convencer de que isso esteja ligado a saúde e bem-estar. Não deixo de admirar a preparação física, a concentração e a disciplina de quem luta, mas uma atividade em que os participantes, invariavelmente, saem machucados, feridos e sangrando não cabe no meu conceito-feliz de esporte.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Filtro solar


Nasci oito dias após o início oficial do verão. E eu não poderia ter nascido em outra estação. Comemoro primaveras na estação em que os dias são mais longos e as tardes são encerradas com chuvas de verão - breves e refrescantes, como pílulas homeopáticas das águas de março, que encerram a estação.

E quando as noites de verão chegam trazem a brisa cheirosa que nos faz ficar mais tempo fora de casa, caminhando no calçadão ou sentados no banco da praça.

É a estação das pessoas coradas e bronzeadas, das pessoas molhadas de suor, de mar.
É a estação das festas, das férias, das confraternizações, do réveillon, do carnaval. Como não ser feliz no verão?
É a estação das bermudas, dos vestidinhos soltos e do chinelo de dedo.
É a estação das cores vibrantes no céu azul, no sol amarelo que brilha sobre as folhas verdes.
É a estação das curvas nas ondas, nas marcas na areia, nos cabelos ao vento, nas danças ao entardecer, no ângulo preciso da Terra para os raios certeiros nos atingirem.

A estação em que nasci é a que me faz sentir mais viva, com o sol vibrante tocando a pele molhada cheirando a filtro solar, o vento fraco nos aproximando do mar e as pessoas quentes de calor e espírito festejando cada céu estrelado ao luar. Sem hora pra acabar. Horário de verão.


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Uma longa viagem*



"Ah, um lugar na janela!", comemorou, apressando-se para que ninguém lhe roubasse o assento privilegiado.
O caminho era longo e havia grandes possibilidades de o ônibus ficar bem cheio de gente. Então era bom garantir que não seria importunada pela multidão que logo ocuparia o corredor. Joyce sentou satisfeita à janela que seria sua durante a próxima hora e sacou a revista que lhe ajudaria a diminuir a sensação de demora. Estava ansiosa, afinal iria encontrar o amor da sua vida.

Não tinha passado muito tempo e um passageiro sentou-se ao seu lado. Ficou na dele, trocando mensagens pelo celular, nada que atrapalhasse sua leitura ou tranqüilidade. Parecia ser como ela, gostava de ficar quieto e introspectivo em coletivos. Tanto que, assim que vagou um lugar sem ninguém ao lado, duas fileiras a frente, ele não hesitou em pular para um dos bancos vazios. Mas estranhamente não escolheu a janela, sentou no corredor.

"Se ele gostava do corredor, porque não continuou onde estava? Será que eu estava incomodando? Bem, só espero que a próxima pessoa a sentar do meu lado seja tão quieta quanto ele. Será que devo mudar para o banco ao lado só por garant...?" O pensamento de Joyce foi interrompido pelo cheiro de álcool que seu novo vizinho exalava.

Abriu mais a janela para que o vento lhe acertasse em cheio as narinas. Já dispersa de sua leitura, começou a temer que o cara quisesse interagir de alguma forma inconveniente. Temia mais ainda que ele vomitasse ao se lado ou, pior, em cima dela. Ficou quieta, fingindo estar concentradíssima na leitura e, de vez em quando, erguia o nariz para o vento.

O homem abaixou a cabeça de olhos fechados, parecia dormir. O que era um problema, pois sua condição vulnerável fazia com que seu corpo balançasse conforme o movimento do ônibus. Joyce ajeitou-se, afastando-o discretamente com o ombro direito.

_ Me avisa quando chegar na Avenida das Américas?, soltou repentinamente o bêbado com um sotaque estranho, como se tivesse sonhado com a avenida que corta a Barra da Tijuca.

_ Claro, respondeu Joyce rapidamente querendo se livrar do bafo forte.

_ Não precisa ter medo de mim.

"Que bêbado perspicaz!", pensou ela como se fosse um xingamento enquanto tentava transparecer tranqüilidade:

_ Tudo bem, não estou com medo.

_ Você não precisa ter medo de mim porque eu tenho esposa e filhos.

_ Tudo bem, não estou com medo, repetiu perguntando-se por que ele não voltava a cochilar.

Agora, ela nem podia ignorá-lo e apontar o nariz ao vento sob risco do tagarela alcoolizado sentir-se ofendido.

_ Eu sou da Angola e estudo Agronomia, revelou o homem.

"Ok, te dou uma chance, pode ser uma boa história, afinal", pensou Joyce.

_ Há quanto tempo você mora aqui?

_ Dezesseis anos. Eu sou pintor. Se quiser pintar sua casa, me chama porque eu não faço uma pintura comum, faço texturas. Com o que você trabalha?

_ Sou publicitária.

_ Onde você estudou?

_ Na UFRJ.

_ No Maracanã?

_ Não, na Praia Vermelha.

Diante da expressão de interrogação, ela completou: _ Na Urca.

_ Ah, eu conheço a Urca, já trabalhei lá.

_ Onde você estuda Agronomia?

_ Na UFRJ.

Joyce desconfiou da informação: _ No Fundão?

_ É.
Olha, você não precisa ter medo de mim porque eu trabalho, tenho esposa e filhos. Essa é minha vida, não te faria nenhum mal. Sabe por quê? Porque eu acho que eu posso precisar da sua amizade um dia...

_ Ahn...

_ Para onde você está indo?

_ Encontrar meu namorado.

_ Que bom que você tem namorado. Você tem filhos?

_ Não.

_ Quer ter filhos um dia?

_ Sim.

_ Quantos? Um, dois, três...?

_ Três, soltou Joyce sem pensar em sua real pretensão.

_ Trêêêêês?!

_ Quantos filhos você tem?

_ Nove.

_ Ahn... Pequenos?

_ O mais velho tem catorze anos.

(silêncio...)

O angolano fica pensativo e Joyce chega a acreditar que a conversa chegara ao fim. Mas, de repente, ele volta os olhos para ela novamente e pergunta, como se fosse a primeira vez:

_ Quantos filhos você quer ter?

_ Três.

“Por via das dúvidas, é melhor manter a mesma resposta”, pensa Joyce.

_ Trêêêêêês?!

Joyce não se contém e solta o primeiro riso daquela conversa.

_ Aaaah, você já não está com medo de mim!, constata o angolano com satisfação. _ Por que você teve medo de mim no início?

_ Em geral, eu ando com medo na rua, confessou Joyce. E justificou: _ A cidade é muito perigosa.

_ É verdade. Mas eu não vou fazer mal a você. Eu quero ser seu amigo. Sabe por quê? Você conhece o mapa Mundi?

_ Sim.

_ Se você reparar a América do Sul e a África se encaixam.

Nessa hora, Joyce tem um pensamento irônico: “Ah, sim, um ótimo motivo para sermos amigos.”

O angolano continua seu raciocínio:
_ Acredita-se que essas partes estavam juntas muitos anos atrás e eu acredito que elas ainda estão em movimento porque antigamente eu demorava oito horas e meia para vir de Angola para cá. Agora, demoro sete horas e meia.

Surpresa, Joyce julga aquela informação realmente interessante.
_ A Angola é violenta?

_ Não mais porque a guerra acabou.

_ Mas tem muito assalto, seqüestro...?

_ Ah, sim, igual aqui!

_ Então, é violenta.

_ Qual é o seu nome?

_ Joyce.

_ O meu é Mathias, fala exibindo a palma da mão direita.

Joyce corresponde educadamente e o aperto de mão dura mais tempo do que ela pretendia.

_ No início, você teve medo de mim, não sei por que e não quero saber, mas você não precisa, tá? Eu não vou te fazer mal, quero ser seu amigo.

Joyce sorri tentando ser simpática e rapidamente vira o nariz para a janela com receio de ficar embriagada pelo cheiro forte daquelas palavras.

_ Você sabe onde estou indo?

Apesar da resposta óbvia, Mathias aguarda escutá-la dos lábios de Joyce.
_ Não. Onde?

_ À casa da minha namoradinha

_ E sua esposa?

_ Nossa separação é certa.

_ Entendo, lamenta Joyce.

_ Não, você não entende. Você soltou a palavra “entendo”, mas você não entendeu.

_ Eu entendi, assegura Joyce.

Mathias dá de ombros desistindo de argumentar.

_ Minha namorada é muito bonita. Ela é de pele branca assim que nem você.

_ Que bom que ela é bonita.

_ Eu não fico com mulher feia.

(silêncio...)

_ Mas isso não é certo porque as pessoas feias também amam, continua.

A peculiar filosofia faz Joyce rir por dentro.

_ Você é bonita, solta ele.

_ Obrigada.

_ Tem gente que é bonita mas se veste mal e tem gente que não é bonita mas se veste bem. Você está bem vestida.

_ Obrigada.

_ Eu estou bem vestido?

Joyce analisa a vestimenta do angolano, como se ela fosse dar uma resposta sincera:

_ Está.

Mathias agradece e sorri largamente comemorando o elogio.

_ Qual é o seu nome?

_ Joyce, responde ela com preguiça de repetição.

Ele mostra a palma da mão novamente e se cumprimentam mais uma vez.

_ Você é brasileira?

_ Sou.

_ Do Rio?

_ Sim.

_ Mentira!

_ Verdade.

_ Mentira.

_ Eu pareço ser de onde?

_ De Minas.

_ Porque eu sou muito branca?

_ Não.

Ele repensa...

_ Se bem que quem fala com estrangeiro ou é carioca ou é baiano.

Joyce tenta encontrar lógica na informação...

_ E se eu quiser te encontrar?, pergunta ele.

_ Como assim?, questiona Joyce para ganhar tempo e não precisar dar informações a um desconhecido bêbado em uma cidade em que ambos concordam ser perigosa.

_ Se eu quiser te ligar e falar “preciso encontrar você”, como eu faço?

Joyce dá de ombros, pressiona os lábios e ergue as sobrancelhas como quem diz “Tenta a sorte de me encontrar por aí.”

_ Eu moro na Praça Seca, na Rua do Sítio, casa do Pequeno. Não precisa ter medo de mim. Onde você mora?

_ Na Freguesia.

_ Eu nunca vou te fazer mal. Meu pai me ensinou: “Não machuque alguém porque o machucado vai doer mais em você”.

_ Bonito.

_ Quantos filhos você quer ter?

_ Três. E meu nome é Joyce.

_ Trêêêêêês?!

Joyce pega mais um ar na janela.

_ Um dia você vai contar de mim para os seus amigos.

_ Vou mesmo.

_ Aqui já é a Avenida das Américas?

_ Sim.

_ Vou descer.

Mais um aperto de mão.

_ Boa sorte e tudo de bom, deseja Joyce com sinceridade.

_ Obrigada.

Mathias salta e acena pela janela. A porta fecha.

_ Joyce suspira aliviada.

O cara sentado no banco da frente logo se vira:
_ Está tudo bem?

_ Sim, obrigada.

_ Eu estava agoniado...



_ Está tudo bem, garante Joyce.

_ Você vai ter uns quinze filhos, né?

Joyce ri.







*Uma viagem inspirada em fatos reais.




quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A cidade que nunca dorme


Uma das coisas mais saborosas (literalmente) de Nova York são as tortas de maçã vendidas em qualquer uma das inúmeras confeitarias existentes por lá. Em inglês, o doce leva o sonoro nome de “apple pie”, assim, num crescente, com vários P’s, como uma combinação de notas musicais.

Não haveria nome mais apropriado para o doce da “Big Apple”, a cidade em que se ouve um saxofone em cada esquina. Ou em cada estação de metrô. O que, na prática, dá quase na mesma. Pode-se ir a qualquer lugar dentro de Nova York (e até a alguns fora da cidade) usando o trem. Alugar um carro por lá é estragar a viagem, é se fechar no ar condicionado e deixar de sentir os cheiros que o vento traz. É perder um artista que faz da calçada seu ateliê, é deixar de tocar as pedras de um edifício residencial com entradinha em nível mais baixo que a calçada, é não se encantar com uma flor de cor inusitada.

E é assim, por caminhos pelos quais não se passa correndo, que se decide entrar e uma estação de metrô e, em 20 minutos, atravessa-se Manhattan de uma ponta à outra e, em 40, chega-se até a outro estado, se estivermos falando de um brasileiro-ávido-por-compras-no-exterior que quiser dar um pulinho em Nova Jersey para visitar “Outlet malls”.

Aliás, minha (humilde) dica é para que não se gaste mais que 10% do tempo com compras em uma cidade tão rica culturalmente. Gaste mais dinheiro em peças, museus, show e “tips” para os artistas de rua que em roupas, perfumes e eletrônicos, se o que se busca é enriquecer e não pagar excesso de bagagem.

E se você não estiver satisfeito com os músicos por toda a parte, pode dar uma conferida em um especial (não necessariamente especial enquanto músico), indo a um restaurante com música ao vivo onde o clarinete é tocado por ninguém menos que Woody Allen. E é por causa dele que “o restaurante com música ao vivo” torna-se “um show no qual se pode pedir comida”. Sim, porque, apesar de outros quatro ótimos músicos no palco, ninguém tira os olhos de Mr. Allen, ninguém deixa de dar uma risada a cada trejeito peculiar do cineasta.

E se pegar um dia chuvoso de outono, não se considere sem sorte, é uma ótima oportunidade para passar a tarde no Metropolitan Museum of Art, onde se encontra, em único (e enorme) lugar, algumas daquelas obras de arte que se vê em livros e exposições esporádicas para todos os gostos. Eu mesma, que aprecio arte como leiga, fiquei encantada, há alguns anos, com uma exposição sobre moda e os estereótipos de beleza e, da última vez, deliciei-me com Andy Wharol na mostra “Sixty Artists, Fifty Years”, que reúne obras do próprio Wharol e de artistas influenciados por ele.

Enfim, uma cidade com muitas opções para tudo na qual você só precisa pegar longas filas se estiver muito ansioso para assistir ao novo Atividade Paranormal ou para comprar ingressos para o show do Bruno Mars. Às vezes, é preciso enfrentar uma para ir ao banheiro também, mas aí vem uma boa notícia para as mulheres: todos têm papel. Todos mesmo, incluindo o banheiro público da praia de Coney Island.

Enfim (como eu ia dizendo), com tantas opções, se, depois do jantar, você ainda não tiver night certa no Village, na dúvida, vá para a Times Square, mais quente que os outros pontos de Manhattan. Desconfio que seja pela grande quantidade de luzes e de gente.

Bem... Vá lá, batuque uma música qualquer com o pé, eleja uma confeitaria e peça uma fatia de épolpai.
Ah, e só durma se não tiver outra opção.





terça-feira, 9 de outubro de 2012

Futuro atual


Não tenho nostalgia da infância. Simplesmente não tenho. Não sinto saudades de "um tempo que não volta mais". Também não acho que eu "era feliz e não sabia". Não que eu não fosse feliz. Não que eu soubesse que eu era. Quando somos crianças não sabemos muitas coisas, né? Mas é um tempo bom na lembrança, no passado, não precisa retornar e interferir no presente, que também pode estar sendo tão bom quanto e talvez deixe saudades...
"Ah, mas era bom não ter contas para pagar", dirão alguns. Mas também não era legal ter só o dinheirinho do lanche, né? Ou a mesada contada para comprar gibi, exceto nos meses em que não era lançado um CD daquele ídolo. É, CD, sou dessa época...
“Ah, mas era bom não precisar trabalhar”, afirmarão outros. Mas isso não era tudo o que queríamos quando precisávamos estudar os tipos de células humanas? Sonhávamos com o dia em que só estudaríamos e trabalharíamos com o que quiséssemos.
É, não é bem assim... Mas sabe que trabalhar em vez de estudar não me aborrece tanto? Sem desmerecer os estudos, me encanta ter uma atividade mais ativa que não apenas acumular conhecimento. Me encanta colocar conhecimento em prática, fazer parte da engrenagem que faz o mundo girar, sentir que não estou aqui de passagem e que sou capaz de fazer diferença pelo menos no meu mundinho pequenino...
“Ah, e não tínhamos tantos problemas e preocupações”, mas a vida sem tédio é feita de problemas a serem resolvidos e preocupações a nos ocuparem. Pelo menos enquanto tivermos energia para tanta ocupação.
Então, nada melhor que as tarefas de hoje, os estudos de hoje, os amigos de hoje, as preocupações de hoje, o dinheiro de hoje e as contas do mês que chegam com data de vencimento.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sonho e realidade


Viajar é como sonhar, é viver sensações que não são reconhecidas pela memória, é visitar lugares nunca antes imaginados. Viajar é tocar novos solos, andar contra novos ventos, sentir novos perfumes. Viajar é escutar novos sons, testar pronúncias que nem sabíamos que nossos lábios eram capazes de produzir. É deixar que esses mesmos lábios testem novos sabores. É escutar expressões e entonações cotidianas que caracterizam um povo e sua cultura. É tocar a textura de novos climas, flores, frutos, pedras, águas. É ver as formas próprias do relevo de cada lugar.

Viajar é como sonhar, mas não aquele sonho de lembrança remota no dia seguinte. Uma viagem é como um sonho que se questiona se todas aquelas sensações tão nítidas foram reais. Questiona-se quando se desperta com um pulo da cama ou quando se abre porta de casa, com saudades do lar: foi tudo de verdade?

Viajar é viver, é sentir-se parte desse mundo tão imenso e conhecer cada cantinho dele, cada pedacinho único e especial, que não se assemelha a nenhum outro do universo. Viajar é sentir-se vivo quando o mesmo Sol toca a pele em qualquer coordenada geográfica que se esteja.

Viajar é sentir-se parte do mundo, em contato com naturezas tão diversas que fazem a máquina Terra funcionar e nos abrigar. É estar em contato com as transformações feitas pelo Homem e pela Ciência que possibilitaram que aquele ponto único do universo fosse modificado também de maneira única.

Viajar é como sonhar, pois é um hiato de tempo fora da rotina, que em algum momento se fará presente de novo. Viajar é como sonhar, pois se vai a lugares desconhecidos onde se convive com pessoas que nunca mais serão vistas. Viajar é como sonhar porque uma hora temos que acordar - ou voltar. Viajar é viver intensamente. E sonhar intensamente.

domingo, 22 de julho de 2012

Sincero, é?

Seis anos atrás, escrevi uma crônica sobre pessoas que participavam da comunidade no Orkut (viu? foi há seis anos mesmo) “Sou chato e daí?”. No texto, eu duvidava que alguém realmente pudesse sentir orgulho de ser chato.

Pois não duvido mais. Tem gente que gosta, sim. E expõe isso não só virtualmente. Tem gente que acha legal ser chato – por mais estranha que essa frase possa parecer. “Chato” é uma qualidade um tanto quanto vaga, né? Refiro-me aos chatos inconvenientes, que gostam de incomodar mesmo. Em geral, esses são os chatos que mais se orgulham de serem assim, acham que isso é ter personalidade.

Aí a pessoa é “cara-de-pau” e se classifica como “sincera”. E com esse rótulo de “sincera”, ela acha que pode falar o quiser para quem quiser... Sai por aí dando pitaco na vida dos outros, apontando os defeitos na cara dos amigos, colegas e conhecidos... Pode ser que seja tudo verdade, mas pode ser também que o momento e o lugar escolhidos não sejam os mais adequados.

Muitas vezes, o problema nem é com o local e a hora, há casos em que o próprio chato (que se autodenomida “sincero”, é bom lembrar) é o errado, não tem intimidade com o receptor do pitaco supersincero, mas se dá o direito de falar o que lhe der na telha.

Pra mim, ser sincero não é falar tudo a todos. É preciso saber selecionar as opiniões que devem ser emitidas. Ser sincero é tratar bem quem se gosta – e isso significa não expor os amigos de maneira negativa, o que muitas vezes fazem os supersinceros.

Ser sincero é também aproximar-se o mínimo possível de quem não se gosta – e isso, certamente, não inclui dar opinião não-solicitadas. Se fizer isso com o inimigo, aí ta procurando briga... E barraqueiro já é ooooutro defeito.

domingo, 15 de julho de 2012

Respeito aos mais jovens


“Respeite os mais velhos”. Tá aí uma orientação sábia, que escutamos desde sempre e ninguém questiona seu valor. (Há quem não coloque em prática, mas isso fica pra outro texto.) E o principal argumento é a chamada “experiência de vida” dos vovôs e vovós ao nosso redor. “Ele já viveram muito, aprenderam muitas coisas”, dizem os de meia-idade aos mais jovens. Algo semelhante à valorização do conhecimento e da informação, mas sem esses rótulos. Ou seja, algo que, na verdade, independe da idade.

Mas, se a sabedoria e a informação dão poder e hierarquizam as relações, não significa que os aprendizes não merecem ser respeitados também, né? Vale mais um jovem (ou velho) que quer aprender que um velho (ou jovem) acomodado, certo?

Meu ponto é: os que sabem mais precisam respeitar os que sabem menos também e, de preferência, estar disposto a ensinar. Os jovens devem respeitar os mais velhos que têm dificuldades com a tecnologia; assim como aquele que dirige há 30 anos deve respeitar as inseguranças do colega de trânsito que tem experiência de 30 dias; e um engenheiro deve respeitar, sem perder a paciência, seu filho que estuda as primeiras contas matemática; assim como aquele que aprendeu com a vida deve respeitar que o tempo passa, que as coisas mudam “de vez em quando” e que um jovem por aí pode ter feito uma pesquisa tão bem apurada no Google que está entendendo mais e melhor determinada situação em comparação com quem a viu há 10 anos (ou há 10 horas).


domingo, 8 de julho de 2012

O culpado


Junho passou. As mensagens e vídeos românticos postados publicamente, assim como os estudos científicos relacionados aos efeitos do amor no nosso cérebro, serão consideravelmente reduzidas até o mês do dia dos namorados chegar de novo.

E vendo tantos casais apaixonados, é quase inevitável chegar à conclusão de que “o amor é lindo”. Lindo, mas faz sofrer. Faz sofrer quando acaba, faz sofrer quando não é correspondido. Enfim, faz sofrer quando não é completo. E, me parece, que ele É incompleto, na maioria das vezes. Ou seja, parece que, quase sempre, ele faz as pessoas sofrerem e acaba perdendo aquela beleza das declarações de amor.

Não me baseio em nenhuma estatística para usar a expressão “quase sempre”, não contabilizei nem mesmo as pessoas que conheço para afirmar se há mais delas sofrendo ou suspirando por amor.

Mas já reparou nos desconhecidos que passam por nós chorando? Sempre parece que é por amor. Ou aquele colega de trabalho que está mais estressado num dia qualquer. “Deve ter brigado com a namorada” será a primeira especulação na hora do almoço.

Por quê??? Por que o amor é a primeira opção de causa para alguém que está triste? Por que esse é o primeiro motivo que nos vem à cabeça (ou é só na minha que ele é o primeiro?) quando vemos lágrimas nos olhos de alguém que passa?

A pessoa pode ter sido reprovada em uma prova, perdido o emprego, não ter dinheiro para pagar uma dívida, estar decepcionado com um amigo ou um irmão, ter brigado com um parente, ter acabado de enterrar seu cão... Inúmeras coisas nos fazem chorar, mas, na dúvida, deve ter sido culpa do amor.