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terça-feira, 12 de novembro de 2013

12 horas de apuração

Acordo atrasada, pulo da cama, me arrumo em meia hora. A primeira roupa que vejo, tudo que vou precisar na mochila, uma banana enquanto calço o tênis. Sem esquecer o guarda-chuva.

Ponto de ônibus. Cinco minutos. Nada. Vou chegar atrasada. Um táxi. Parou. Bom dia Lourenço Jorge por favor. "Barra da Tijuca? Vou pegar um trânsito horrível pra chegar no Leblon. " Eu que sei, moço, só tô no seu táxi porque não tenho tempo para esse trânsito horrível.

Chegamos, já estavam à minha espera. Eu pensava que conversaria com algumas voluntárias que estivessem lá em atividade. Mas a coordenadora conseguiu mobilizar metade do grupo, que, mesmo fora de seu horário, foi ao hospital contribuir com minha matéria.

Almoço entre amigas, novidades, batata assada com bastante queijo.

Ônibus. Trânsito bom. Casa da sogra. Literalmente. Alguns e-mails, ligações. Pausa pro café. Uma aula particular de matemática rolando ali do lado. Área. Perímetro. Não gosto da professora nova.
Tá na hora, próxima entrevista. Já estavam à minha espera mais uma vez.

Cumprimentos. Vamos começ... "Não, espera, vamos nos conectar um pouco antes." Pega minha mão, olha nos meus olhos. Tomara que goste da minha energia. Senão, adeus entrevista. Pronto. Tudo bem. Professora de yoga.
Depois, aluna do curso de maquiagem. "Não, hoje não é dia do curso. Ela veio só para sua entrevista." Ah... (Não precisava.)

Volto pra conexão. "É na sala de dança, mais pra dentro da favela." Tudo bem, vambora. Muitos cumprimentos a cada viela. Crianças pintando. "Se quiser, pode fazer uma aula de yoga com a gente." Fico curiosa. Será que não vai ficar tarde?





"Do outro lado, tem curso de depilação também." Vamos lá, então. "Quer me entrevistar?" Não quero atrapalhar a aula. (Se eu te entrevistar, não volto a tempo pra aula de yoga.)

To indo, obrigada, tchau. "Já? Não vai me entrevistar?" Talvez outro dia. Sorriso amarelo... Fui.

Tapetes, vela aromatizada, pernas cruzadas, música. "Vai fazer? Então entra." Não dá nem tempo de olhar meu celular? Tem umas duas horas que não pego nele... Não, não dá, já vão começar.

Respira... Mantra... Muitos iniciantes... Explicações sobre a aula... Será que tem outros iniciantes mesmo ou é só para me enturmar?

"Temos que ser nós mesmos, nos desprender do que nos foi ensinado, parar de ir a buscas que não são nossas..."

Tenho nós... Nos pés, joelhos, coluna, pescoço, alma...

Um menino de uns 9 anos entra discretamente, senta ao lado da avó, imita os movimentos da professora, como se brincasse de mímica, mas com a concentração de quem está levando aquilo a sério...

A professora propõe uma conversa sobre o tema da minha pauta...

Me sinto leve... Não sei se volto para desatar meus nós ou se não volto para não correr o risco de encontrar novas dores... Ah, sem pressa...

Ponto de ônibus. Ai, minha perna. Fome. Não, não vou comprar um salgado, acabei de fazer yoga, afinal. Escuro. Esse vai só até o meio do caminho. Parou. Fila pra entrar, mais tempo pra decidir. Escuro. Vou nesse mesmo. Sem pressa...

Ponto de ônibus. Esse só vai até o meio (do meio) do caminho. O outro vai demorar? "Não sei." Fila pra entrar, mais tempo pra decidir. Vou nesse mesmo.

Trânsito bom. Sem pressa... Me sinto bem, apesar de cansada. Saltei. Ando mais um pouco. Ai, minha perna. Escuro. Sem pressa...

Cheguei. Novela. Janta. Banho sem pressa... Papo. Cachorro. TV.

Escovar os dentes. Boa noite. Despertador. Será que amanhã consigo acordar na hora?

Nossa, quanta gente do bem a minha volta hoje! Sorri. Dormi...

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Vai a pé ou vai de trem?

"Senhores passageiros, desculpem a freada brusca".

"Ahn? Ela pediu desculpas pela freada?! Po, que legal! Um pouco de educação e respeito com os passageiros, né?"

Desculpem – agora sou eu que peço -, é que não tô muito acostumada com essas coisas. Ando mais de ônibus, sabe? Pego o metrô só de vez em quando. Isso é menos uma escolha que falta de opção. É que o transporte subterrâneo ainda não chegou nesses lados da cidade.

Por isso fiquei tão impressionada com a fala da locutora no metrô. Achei interessante o fato de alguém se preocupar em orientar a moça a pedir desculpas nessa situação. Achei que esse tipo de coisa não existia no transporte público do Rio.

Acho até que a tal da freada tinha passado despercebida e só fui reparar mesmo porque a moça falou. É que, no ônibus, a gente tá tão acostumada com isso. As freadas costumam até ser piores que aquela. Eu tava de boa... Mas gostei tanto de terem me pedido desculpas...

O motorista do ônibus nunca me pediu desculpas por freadas bruscas. Nem por curvas bruscas, arrancadas bruscas, informações bruscas, buzinadas bruscas, falta brusca de troco, uso brusco de celular enquanto dirige, cigarros bruscos, música em volumes bruscos...

De tão impressionada com o raro gesto de educação, fiquei me questionando o motivo daquela desculpa. Porque, vamos combinar, a moça não tava preocupada se eu fiquei ofendida com a freada, não é? Nem quer que eu ache o condutor uma pessoa gente boa que não frearia bruscamente de propósito. Então, por quê??

Só por educação é uma possibilidade. Mas ainda assim continua sendo estranho. Por mais estranho que possa parecer alguém se impressionar com educação.

Na hora, pensei: "Então, quem anda de metrô com mais frequência é tratado com mais educação, costuma se sentir mais respeitado...? Que legal, as pessoas daqui não devem chegar tão estressadas ao trabalho." Eu sei, nem tudo são flores. Os vagões muitas vezes ficam superlotados, as pessoas empurram para entrar e sair, o trem para muitas vezes entre as estações, atrasando a chegada. OK, eu já passei por isso tudo também. Mas, comparando com a vida de quem anda de ônibus, as pessoas são um pouco mais respeitadas, né? Até ganham desculpas!

E enquanto pensava, eu olhava aquele vagão limpinho, com ar condicionado, bancos preferenciais vagos... E aí, percebi: nós, passageiros, também somos mais educados no metrô. Não jogamos lixo no chão e não sentamos nos bancos de cor laranja ou azul.

Mas, se as pessoas que andam de metrô e de ônibus são as mesmas, por que elas se comportam diferente em um e no outro? Tá, às vezes, não são literalmente as mesmas, mas fazem parte do mesmo grupo heterogêneo de pessoas que utilizam transporte público no Rio de Janeiro. Sem falar nos casos em que são realmente as mesmas, pegando metrô e depois ônibus ou o contrário. Ou então variando entre um e outro conforme o destino. Será que essas pessoas mudam de comportamento?

Enfim, vocês entenderam. Somos tratados diferentes no ônibus e no metrô. Mas nós também somos diferentes num e noutro. E aí, quem nasceu o primeiro: o ovo ou a galinha? Porque, mesmo não chegando a muitas conclusões nessa reflexão, nada me tira da cabeça que os comportamentos estão relacionados de alguma maneira.

Somos mais educados quando nos sentimos mais valorizados? É a velha história da "minha educação depende da sua"? Espero que não, essa máxima não faz muito sentido para mim. Por que não jogamos papel de bala no chão do metrô? E olha que no ônibus, ainda tem uma opção a mais (tão mal educada quanto) que é jogar pela janela. Mesmo assim, o ônibus tá cheio de lixo no chão...

Por que aceitamos ir em pé no metrô para deixar vagos os banco de cor laranja ou azul? O ônibus é mais desconfortável e, em geral, as viagens são mais longas, eu sei. Porém, mesmo quando não há lugar vago metrô, uma pessoa idosa não demora a encontrar alguém mais jovem disposta a levantar e ceder o seu.
Já no ônibus, a disputa é selvagem. Ninguém fica em pé para deixar o assento preferencial vazio e quem o ocupa ainda torce para que a senhorinha que entrou não pare por perto...

Além disso, no metrô, não tem pichações, não tem chiclete colado nem embalagens dobradinhas escondidas entre bancos. Logo, não tem baratas. Eu, pelo menos, nunca vi. Se tiver, certamente é em quantidade bastante reduzida.

Então, por que somos mais bem educados no metrô? Essa dúvida continua me martelando. Por que a passagem é mais cara? Por que é mais confortável? Por que é mais rápido? Ou por que te pedem desculpas por freadas bruscas, justificam uma parada entre estações e se preocupam para que você não enfie o pé no espaço entre o trem e a plataforma?

Ah é! Ainda ia esquecer dessa. No metrô, não dá para não parar no ponto. Ainda assim, há a preocupação para que você esteja atento ao sair. No ônibus, muitas vezes, o motorista já está acelerando quando você coloca o pé no primeiro degrau para subir. Ou já fecha a porta quando você nem terminou de descer. Isso quando não passa direto pelo ponto ou para no meio da rua. E aí, o "vão" para o qual você tem que atentar é de asfalto e nele passam carros, motos, bicicletas, caminhões e outros ônibus. E não tem ninguém pedindo desculpas ou dizendo "fique atento".

Não somos perfeitos no metrô, é claro. Ainda temos que aprender a não ficar parados na porta se não vamos saltar (essa lição vale para o ônibus também), a esperar os coleguinhas saírem antes de entrarmos e a não empurrar quem está indo na mesma direção que a nossa, uma hora todos chegaremos lá.

Aliás, essa do embarque X desembarque, o pessoal do Metrô Rio está tentando nos ensinar. Já até desenhou para ver se conseguimos entender. Em algumas plataformas, há setas amarelas pintadas no chão, não sei se vocês já repararam, bem na direção em que param as portas do metrô. Duas na direção das extremidades da porta, indicando o movimento plataforma – metrô; e uma na direção central da porta indicando vagão – plataforma.

Vendo que desenhar não era suficiente, começaram a colocar fitas (daquelas que ligam pedestais, usadas para organizar filas) separando, na plataforma, a área de quem embarca da de quem desembarca. Resolvido o problema? Não! Quem nos dera, né? Quem está esperando o trem passou a se aglomerar entre as fitas, formando um pequeno curral de pessoas prontas para invadir a primeira porta que se abrir diante de seus olhos, todas pisando na seta justamente na direção contrária ao seu movimento!


Mas, voltando ao assunto à minha grande dúvida, ainda to procurando o que define nosso tipo de comportamento nesses meios de transporte. O que determina quão educados e gentis seremos em cada situação e como decidimos isso? Decidimos isso? É consciente?


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O balanço


O vento forma ondas
Na areia e no mar
E, de tanto os pequenos grãos rearrumar,
O vento formou lagoas para o povo se banhar

Na mesma direção,
Ventam as folhas dos coqueiros
E os cabelos das Iracemas,
Como todas as meninas daqui gostariam de se chamar
Das mulheres rendeiras às mulheres rendá

As saias a dançar
As peneiras a farinhar
As redes a embalar

A castanha de caju a sorrir
Como fazem os cearenses,
Que encurvam até a voz no jeito de falar

Tudo dança, rebola e encanta
No Ceará, nada é linear


quinta-feira, 25 de julho de 2013

Rio, 14 graus

É só o inverno chegar que a gente descobre quem já foi pra Europa. E descobre também que é engraçado. “Ai, carioca é muito engraçado. Se agasalha no Rio. Eu já fui pra Europa e sei o que é frio de verdade.” Vamos analisar a situação...

Meu corpo está habituado a uma temperatura entre 25º de 40º. Um “belo” dia, faz 14º (CATORZE GRAUS!) e meu corpo é que é exagerado de enviar para o meu cérebro a mensagem de frio? Exagerado é quem tem que esperar um inverno europeu para colocar um cachecol.

Ainda tem mais essa: cachecol e luvas são o parâmetro do exagero, são os elementos que tornam você um “carioca engraçado”. Se estiver de sobretudo e botas, então, pode se candidatar ao posto de “carioca hilário”. Porque estar de blusa e casaco – duas camadas para aquecer a barriga, os braços e as costas -, beleza. Mais ai de você se quiser proteger as mãos e o pescoço. Esses merecem congelar. Qual é a da rejeição?

E a crítica ao “carioca engraçado” vem sempre com um ar de superior, como se o frio europeu fosse um conhecimento que desse mais valor ao turista brasileiro. Mas, agora falando sério, qual é o problema de quem sente frio se agasalhar? Qual é o defeito ou erro do carioca que usa cachecol? Acham que não estamos com frio de verdade? Nããããão, colocamos vinte casacos, mas na verdade estamos morrendo de calor e continuamos agasalhados porque... errr... porque... queremos sentir cheiro de naftalina. Improvável, não?

“Ai, Carol, você que levou para o lado negativo e interpretou como uma crítica. Nós, todas as 127 pessoas no Facebook que dizemos que carioca é engraçado, estamos apenas fazendo um comentário inocente, não temos nada contra o fato de o carioca se agasalhar.” Não, não acredito. Simplesmente porque acho que, quando não tem ninguém olhaaaando, na hora de dormiiiir, todo mundo vira “engraçado”, calça meias e se cobre com edredom até o nariz. Quando estão no carro com insulfilm para não serem reconhecidos, ligam o aquecedor. Então, pronto, tá frio.

Não acho que 14º seja igual a 0º ou a -10º, claro que não. Mas ainda não desenvolvi a capacidade de informar à minha pele que “oooolha, daqui a seis meses, vai fazer um frio muuuuito pior que este a alguns milhões de quilômetros de distância, por isso, pare de tremer corpo mal-criado”.

E corpo também não tem memória para temperatura. Se tiver, do ponto de vista biológico, o meu é esclerosado. Da primeira em vez que viajei ao Hemisfério Norte no inverno, prometi: “nunca mais vou reclamar do frio do Rio”. Mentiiiiiira. Não cumpri. Reclamei assim que a temperatura passou dos 20º. Para baixo, é claro. E esse é meu pecado a cada inverno – descumprir uma promessa. Podem me criticar por isso, não pelo meu cachecol.


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Segunda voz

“Vamos vender um milhão de discos”, garantia Welson, mais conhecido como Luciano. Bem mais novo que Mirosmar – mais conhecido como Zezé -, ele incentivava o irmão a persistir na música e acreditar que um dia “vai dar certo”. Zezé, casado e com duas filhas, já não se dava o direito de arriscar. O irmão, cheio de juventude, também já era pai, mas ainda sonhador.

Essa foi a cena que mais me marcou em "Dois Filhos de Francisco", filme ao qual assisti ontem pela primeira vez. Não sei se viajei demais, se filosofei demais. Diga-me você, que já assistiu ao filme ou que leu a descrição da cena ali no primeiro parágrafo.

Realidade ou licença poética, no filme, é Luciano quem desperta a esperança nos sonhos de Zezé, e a segunda voz da dupla fala mais alto. A cena mostra o processo de convencimento. Não muito difícil, é verdade, a partir do momento em que Zezé escuta sua segunda voz em vez de abafá-la como fazemos, quando escutamos somente a razão, quando escolhemos o caminho padrão.

Mas por que calar um sopro de juventude que tem algo a nos dizer? Por que não dar atenção como se estivéssemos sem paciência para um irmão mais novo? Por que deixar nossos sonhos sempre com a segunda voz, se eles podem estar tentando nos mostrar o caminho do sucesso?


O enredo que conta a história da dupla sertaneja dura, ao todo, cerca de duas horas. Mas me identifiquei mesmo com esses aproximadamente 20 segundos. Escutando os argumentos de Luciano, pensei: ele estava certo. O incentivo levou a dupla às rádios, às lojas de discos, aos palcos. E, gostos musicais à parte, não podemos negar, eles fizeram sucesso. Venderam um milhão.


segunda-feira, 20 de maio de 2013

Acordar

É o incômodo
Que me faz levantar

Ele me martela
A cabeça
A alma

É essa pressão
Que me faz levantar

Para mudar
O dia
O mundo

É essa vontade
Que me faz levantar

Para fugir
Das regras
Dos limites

É essa liberdade
Que me faz levantar

Acreditando
Nos sonhos 
Que podem dar certo

É essa criança
Que me faz levantar


sexta-feira, 12 de abril de 2013

Nã-nã-ni-nã...

Sabe, eu tenho uma peninha do "não". Ele existe e vale tanto quanto o "sim", os dois são igualmente importantes em qualquer língua. Mas o "sim" é sempre... Ah, o "sim" é sempre bem-vindo, é sempre o bonzinho da história e é tão... independente.

Sim, porque o "não", coitado, nunca consegue agradar, se estiver sozinho. Para não ser mal-visto, costuma ser seguido por seu amigo "sinto muito", disfarçado no meio de um "Hoje, não vai dar" ou antecipado pelo "Gostaria muito, mas".

Porque se alguém solta um "não" assim, nu com um ponto final, sem véus e enfeites, como alguém que só quer negar, o "não" torna-se grosseiro, ríspido, hostil.

O "não" solta uma lágrima tímida do canto do seu til cada vez que alguém fala que não gosta de dizê-lo. Há quem evite encontrá-lo num diálogo e foge do assunto, faz sacrifícios injustos consigo mesmo, tudo para evitá-lo.

E o "não" lá, só esperando seu momento, preso na garganta, ou num coração apertado. Ele espera ser levado pelo vento depois de solto por um par de lábios qualquer. O "não" não quer estar em corações, ele quer ir de lá para cá, daqui para lá, preenchendo umas lacunas, ajeitando uns "sins" mal colocados por aí.

Coitado do "não", ele só queria ser falado livremente, quando fosse necessário, sem disfarces, com sinceridade, sem precisar se esconder e sem fazer mal a quem o escuta ou a quem o diz. Mas não.



segunda-feira, 11 de março de 2013

Eu faço a comida, você lava a louça

Os homens vão continuar não realizando atividades domésticas enquanto as mulheres continuarem cobrando ajuda nas atividades domésticas. Não é uma questão de inverter os culpados, mas de responsabilizar todos igualmente. Cobrar ajuda no que é obrigação é como pedir por favor. "Ajuda" remete a um auxílio complementar a uma atividade de responsabilidade de outrem.

Enquanto homens e mulheres não se virem totalmente (e igualmente) responsáveis por todos os aspectos que envolvem o lugar em que vivem e não ensinarem isso às crianças que por ventura também convivam naquele espaço, nada vai mudar. Principalmente, enquanto não houver essa visão equilibrada. Porque esse post é menos sobre o que falta nos homens que sobre o que sobra nas mulheres que se veem totalmente responsáveis por determinadas tarefas e não consideram que os homens que dividem o espaço com ela têm a mesma obrigação. Sejam maridos, filhos, pais, irmãos, cunhados...

Enquanto houver mulheres que acordam aos domingos pensando no que farão para o almoço, haverá homens lhe perguntando o menu do dia. Ou enquanto mulheres pegarem as roupas dos homens para passar, derem um pontinho quando descosturar, ou colocarem vanish quando manchar porque acham que eles não saberão como fazer, nada mudará. Enquanto as mulheres não pararem de se esquecer como aprenderam a passar, lavar e cozinhar... Não foi tão difícil, eles também conseguem.


Ou enquanto mulheres trocarem fraldas sujas para, cheirosas, as crianças pularem no colo do papai para brincar. Enquanto as mulheres varrerem o chão e colocarem o lixo para fora. E os homens a descansar...
Enquanto pessoas ainda se surpreenderem com um homem que arruma a própria cama, tudo continuará na mesma. Enquanto homens receberem parabéns por fazerem suas obrigações, tudo continuará na mesma. Enquanto mulheres continuarem exaltando seus maridos no Facebook por, surpreendentemente, encontrarem a janta pronta e o filho de banho tomado, ao chegarem em casa cansadas, elas nunca deixarão de se surpreender. Se ele estava em casa com a criança e o fogão, por que não?

Se a sociedade não é feita só de homens ou só de mulheres que todos nos sintamos igualmente responsáveis pelas mudanças que se fazem necessárias, conscientes de que sempre nos dará mais trabalho mudar que nos incomodar e acomodar.

Não excluo, de maneira nenhuma, a responsabilidade dos homens de tomarem a iniciativa, mas, nesses últimos 24 anos, tenho visto muitas mulheres contribuindo com essa inércia no lar.


Acho justo dividir tarefas por habilidades individuais. Cada pessoa tem mais facilidade em determinados afazeres e acredito que isso deve ser respeitado até para evitar pessoas diariamente insatisfeitas ou resultados mal realizados. O que não acho justo é a divisão por gênero - esse critério que costuma desequilibrar os trabalhos em casa.


domingo, 17 de fevereiro de 2013

Encantos de samba-rock

Árvores secas são inspiradoras, as floridas também.

Flores desabrochadas são românticas, as murchas também.


O sol se pondo  é poético, o amanhecer  também.


O sol quente é energizante, a tarde chuvosa também.


Uma praia tranquila revigora, o mar de ressaca também.


Os tímidos são misteriosos, os  extrovertidos também.


Cabelos encaracolados são encantadores, os lisos também.


Olhos azuis são marcantes, os negros também.


A pele jovem é bonita, rugas com história também.


O som entretém, o silêncio também.


O samba faz mexer o corpo, o rock... 

Bem, o rock  faz mexer a cabeça e batucar os pés. Então, também.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

De volta ao presente

A moda, não de agora, mas a que surgiu há algum tempo e ainda permanece, é ser retrô. Ou vintage. (E, sim, há uma diferença que não vem ao caso entre os termos.) O fato é que está na moda fazer referência ao antigo. O próprio estilo  hipster, que vive seu auge desta época, utiliza esse recurso e os mais descolados acham super cool. Mas, vai colocar uma roupa que era moda no verão passado... "Que roupa ridícula!"; "ele ainda usa isso?" serão  os comentários a seu respeito no dia seguinte. Ou na sua presença mesmo, pelos celulares. Fora os olhares de desprezo.

Flash back, tudo bem. A geração mais jovem já vai a festas anos 90. Digo "mais jovem" porque os que têm menos de 20 anos ainda não tiveram um passado musical com histórico suficiente para preencher a playlist da discoteca. Ou do baile, dependendo da geração a que seu estilo faça referência. Mas veja o que acontece se o DJ da rádio tocar aquela música do ano passado. "Nossa, que música velha!", as pessoas dizem em repúdio, trocando de estação.

A música que você dançava loucamente ano passado tornou-se ruim alguns meses depois? Como foi esse veloz processo de perda de qualidade? Nada contra metamorfoses ambulantes, mas rejeitar dizendo que é ruim  não seria depor contra si mesmo? A roupa que você usou na estação anterior ficou feia de repente? Mas aquela anos 70 continua fazendo sucesso, né? Ou melhor, voltou a fazer sucesso. Por quê? Saudosismo à la Meia-noite em Paris? Por que o ano passado também não tem o privilégio de ser adorado hoje? Por que ele só será adorado daqui a 20 anos?

Bem, como perceberam, ainda não consegui acompanhar a lógica do velho-ruim X velho-novo-bom. Prefiro não me privar do que gostei ano passado, se ainda me agradar, sem esperá-lo voltar à moda. E mesmo se o velho tiver virado novo outra vez, prefiro não datar e usar apenas, se gostar.

E essa lógica, deu pra acompanhar?